Pular para o conteúdo

Personal Finance News

Tolstoi e a morte de Ivan Ilitch

Confesso ter me debruçado só agora sobre a pequena novela de Liev Tolstoi, “A morte de Ivan Ilitch”. Li-a atenta e lentamente (é um livrinho de apenas 85 páginas) e, a cada frase, cristalizava-se em minha mente a coincidência de pontos de vista, o dele e o meu. Sim, eu sei que o autor não é deste século, mas o tema que imagino ter identificado no livro também não. É atemporal.

E qual o tema da história? Para mim, a solidão humana. Digo “para mim” porque cada cérebro tem seus filtros peculiares e não se ocupa das mesmas coisas. De lembrar-se, também, a propensão humana de puxar a brasa para a própria sardinha. Além disso, havia a imodéstia de procurar minhas ideias nas palavras de um grande autor, o que talvez tenha-me levado a “forçar a barra” entortando-a a meu favor. Nada obstante, e com consciência do provável enviesamento, digo o que pude depreender das páginas do livro: não importa quantas pessoas haja ao seu redor, em essência o homem sempre estará só.

Conclui a leitura e, ainda amargurado com a confirmação da opinião que eu preferiria ver desmentida, saí em busca de resenhas. Queria saber se outros leitores tiveram a mesma percepção.

Visões diversas

Li pelo menos dez boas resenhas e logo descobri que havia brasas para muitas sardinhas. E todas as sardinhas eram diferentes da minha.

O tema mais presente nos comentários era também o mais simplista, a morte (anunciada já no título da obra). O fim que a todos espera. A tragédia que, sabida inexorável, não passa sem exorações.

Algumas resenhas preferiam focalizar a fragilidade da vida. Outras, os modos “inadequados” de se viver. Disputas por dinheiro, por posição social, a busca pelo sucesso no trabalho. Coisas que são dizimadas pela morte.

Houve até quem citasse o compositor Belchior e sua canção “Pequeno perfil de um cidadão comum”, o “viver dentro da caixa”, comportamento do personagem, obviamente condenando-o. E fazia sentido.

Outros temas citados eram ainda mais curiosos. A hipocrisia humana e a indiferença entre semelhantes; ode à piedade e à ajuda desinteressada. Ou então, reprovação da vida burguesa da sociedade da época. Até a conduta profissional dos médicos que trataram o personagem não escapou ilesa.

A história

O livro começa com o anúncio da morte de Ivan Ilitch e termina com a consumação da morte de Ivan Ilitch. Entre início e fim, o autor relata a jornada do falecido, suas aventuras, venturas e desventuras e o sofrimento imposto pela doença que o vitimaria. Vida e morte de um sujeito comum. Parece banal? Pois sim!

É certo que gente morre aos montes, todos os dias, mas um grande escritor jamais encararia o fenômeno como banalidade. Ao contrário, procuraria num desses pequenos dramas as nuances apropriadas para a revelação do que trazia no cérebro. E foi o que fez Tolstoi, brindando o leitor com uma vasta gama de emoções únicas retiradas de situações do cotidiano do personagem. Ivan Ilitch nada tinha de especial, nem sua vida, nem sua morte, mas o livro suscita percepções tão diversas quanto as citadas nas resenhas. É a mágica da literatura.

O autor

Liev (ou Leon) Nikolaievitch Tolstói nasceu em 1828, na Rússia. Filho de família abastada, frequentou a Universidade de Kazan, onde estudou línguas orientais e direito. Recebeu vastas terras em herança, serviu o exército, viajou por vários países europeus e voltou à cidade natal para administrar as terras e dedicar-se à literatura.

Pensador social e moral e um dois mais eminentes autores da narrativa realista de todos os tempos, Tolstoi é autor de muitas obras literárias, dentre as quais Guerra e paz (1865-1869) e Anna Kariênina (1875-1877).

Aos 82 anos, atormentado pelas contradições entre sua conduta moral e a riqueza material de sua família – e também devido a atritos com a esposa, que se opunha a desfazer-se de suas posses – Tolstoi fugiu de casa no meio da noite. Com pneumonia, o período passado ao relento agravou seu estado de saúde, e ele morreu três dias depois, em 20 de novembro de 1910, numa estação ferroviária. Sozinho.

====================================================

Leia também: http://osmarfreitas.com.br/madame-bovary-uma-joia-da-literatura/

====================================================

====================================================

Conhece este meu livro?

Siga-me!twitter
Facebooktwitterlinkedin<= Gostou? Compartilhe com seus amigos.